Como me preparei para ler A Guerra da Papoula
Não imaginei que faria um post assim (já é estranho postar minhas resenhas em um Blog, imagina falar coisas mais "aleatórias") mas acho que é necessário.
Para começar, um pouco sobre a minha pessoa: sou uma criaturinha sensível. O que diabos isso significa? Significa que quando eu leio livros é TERRIVELMENTE FÁCIL me fazer acreditar nele e no universo que ele está tentando passar. Digo "terrivelmente" porque não consigo ler ficções históricas sem ter um treco, uma síncope, um momento leve de surto entre eu e minha cabeça, no qual eu discuto comigo mesma, tentando me explicar que o que eu li é mentirinha. Sério, quando eu li O Nome da Rosa, chorei por dois dias porque eu REALMENTE ACREDITEI NO FINAL e fiquei muito triste com ele (não, não vou dar spoiler). Então, apesar de gostar de ler, sei que determinadas coisas podem me afetar bastante, principalmente se eu tiver muito investida no livro.
Somo isso ao meu costume (recomendo, inclusive) de pesquisar brevemente sobre um livro antes de realmente iniciar a leitura. Leio uma resenha, assisto algum vídeo sobre. O básico, sabe? Dependendo do livro, faço uma pesquisa um pouco mais extensa. Com livros mais antigos, gosto de dar uma olhadinha na vida do escritor, tentar caçar referências, às vezes leio textos de apoio ou artigos sobre o livro. Isso me ajuda a absorver melhor o livro
falo isso e me sinto uma vampira, que idiota kkkkkk, além de dar um gás a mais na leitura.
Com A Guerra da Papoula, achei que seria como o primeiro caso. Pesquisa básica, uma resenha ali, um videozinho aqui. Não foi.
A Guerra da Papoula não é uma ficção histórica, mas é um fantasia épica fortemente inspirada na história da China, em especial, o primeiro livro da trilogia (falarei mais na resenha que estou escrevendo) é inspirado nas guerras sino japonesas e… nos crimes de guerra cometidos pelo japão durante esses conflitos. Um tema bem sensível. E eu notei, pouco antes de ler, o quão pouco eu sabia sobre a história da China. E O QUÃO VIOLENTO ISSO PODERIA SER. Esse, afinal, foi o primeiro livro que eu li que tinha alertas de gatilho.
Como meu objetivo era ler um livro e o entender melhor (e não escrever um TCC sobre historiografia chinesa), foquei em pesquisar referências específicas sobre o tema “guerra sino japonesa”, com um foco especial para os crimes de guerra que frase bisonha kkkkkk. Ler sem entender a maior inspiração me faria perder parte da profundidade da história (isso aqui é totalmente uma opinião minha, não leve a sério). E… eu precisava me preparar para as partes violentas. Então, pesquisei tanto sobre a história das guerras sino japonesas, quanto filmes e mídias que envolvem esse tema, para me dessensibilizar. Aqui vai uma lista geral de cada uma dessas coisas e um pouco da minha opinião sobre:
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Não Ficção
Aqui, selecionei os artigos, documentários e vídeos que eu dei uma olhadinha antes de ler o livro. Pode pular para a parte de ficção, que eu sei que vocês acham mais interessante. (credo, sou uma nerd sem nada para fazer).
“Entre a bomba atômica e os crimes de guerra: o negacionismo e a historiografia japonesa em perspectiva” de Mario Marcello Neto. Ensaio presente na revista Revista Brasileira de História, Volume: 41, Número: 87, publicado em 2021.
Este artigo propõe uma discussão sobre o negacionismo dos crimes de guerra cometidos pelo Império japonês durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa, de forma bem técnica, o autor pontua dois crimes de guerra: O massacre de Nanquim e as “mulheres de conforto”, falando sobre as censuras dos fatos históricos, e conclui abrindo uma discussão sobre as bombas atômicas lançadas sobre o Japão, uma ação brutal e hedionda, que, infelizmente, foi utilizado como forma de legitimar o discurso negacionista e mitigar os crimes japoneses.
Texto bem direto, trata mais da parte da pesquisa e da censura sobre os crimes do que os crimes propriamente ditos. Um bom texto para começar a estudar o tema.
“Crimes de guerra japoneses | Nerdologia”, vídeo do Canal Nerdologia. Publicado em 10 de agosto de 2021. Link: Crimes de guerra japoneses | Nerdologia
Vídeo bobinho, super rápido, não muito aprofundado; faz um resumo eficiente e didático, citando fontes. Não é explícito e não se aprofunda nos crimes (ainda bem), mas é legal para ter noção da existência deles e dar um leve contexto histórico.
“Posing as a Victim | Historical Revisionism and Japan”, vídeo do Canal Knowing Better . Publicado em 8 de julho de 2018. Link: Playing the Victim | Historical Revisionism and Japan.
Vídeo (em inglês) mais aprofundado e com mais detalhes dos acontecimentos. O tom do canal tenta ser descontraído, mas isso não afasta o tom pesado e trágico dos acontecimentos narrados. Bom vídeo, com fontes citadas, um pouco… visceral demais, mas é interessante assistir mesmo assim.
“Nanking (2007)”, documentário dirigido por Bill Guttentag e Dan Sturman.
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Ficção
Aqui, os filmes inspirados em eventos reais. Apesar de ficções, retratam, de forma crua e brutal, o que aconteceu, e foi útil para “me preparar” para a parte pesada do livro. Spoiler: não funcionou.
“Cidade do Desencanto (2009)”, filme de drama histórico, dirigido por Lu Chuan.
“Flores do Oriente (2011)”, filme de drama histórico, dirigido por Zhang Yimou.
O filme também se passa durante a invasão de Nanquim, mas dessa vez, acompanha John Miller, um coveiro americano, um grupo de crianças de 12 anos, e um grupo de prostitutas, todos buscando refúgio no mosteiro da cidade. John acaba se tornando a figura protetora e líder relutante das freiras e das prostitutas chinesas, tendo que as proteger das investidas de soldados japoneses. O filme retrata, em especial, a cultura de esturpo extremamente violenta que aconteceu durante esses ataques. `um filme que eu demorei para assistir, tive que parar diversas vezes, por conta do teor pesado e das representações super violentas. Em um tom mais positivo, o filme aborda temas de sacrifício, redenção e humanidade em um contexto de guerra, destacando o poder da compaixão e da coragem diante da violência. Muito tocante e cruel, um filme que deixa um peso no coração. Todos esses filmes que eu citei deixam, na verdade.
“Campo 731: Bactérias, a Maldade Humana (1988)”, filme de terror, dirigido por Tun Fei Mou.
E agora o último filme dessa pequena lista!
Olha, não me pergunte sobre a história, eu não lembro, tudo que eu lembro é que fiquei com absoluto horror e nojo por conta dos efeitos práticos desse filme. Apesar de ser um filme antigo, os efeitos práticos mantêm uma proximidade com a realidade que… honestamente, me deu ânsia de vômito em vários momentos. É um filme muito nojento e cruel, e pensar que foi baseado em acontecimentos reais… é ainda mais perturbador. Veja por conta e risco.
Bem, esse é o fim dessa listinha. Você definitivamente não é obrigado a ver essas coisas se quiser ler A Guerra da Papoula (livro excelente, falarei mais na resenha hihihi), mas eu vi já que, aparentemente, sou uma pessoa com muito tempo livre e disposição, mas pesquisar me ajudou a ler e, vou admitir, foi legal pra caramba fazer isso! Então, super recomendo.
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Beijinhos,
Gaby
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