[RESENHA] Quarto de Despejo | Carolina Maria de Jesus
Palavras não são suficientes para falar sobre esse livro, mas vou tentar.
"Atualmente somos escravos do custo de vida"
Carolila Maria de Jesus nasceu em Minas Gerais, no dia 14 de março de 1914. Filha de empregada doméstica, não conseguiu finalizar seus estudos na escola (o motivo é bem óbvio: racismo), mas aprendeu a ler e a escrever. Quando sua mãe morreu, mudou-se para São Paulo, em 1937 e, seguindo o exemplo da mãe, trabalhou como empregada doméstica durante muito tempo, e, em 1947, grávida e desempregada, mudou-se para a favela do Canindé, que não existe mais, substituída pela Marginal Tietê.
"Saí indisposta, com vontade de deitar. Mas, o pobre não repousa. Não tem o previlegio de gosar descanço. Eu estava nervosa interiormente, ia maldizendo a sorte. Catei dois sacos de papel. Depois retornei, catei uns ferros, uma latas, e lenha."
De pensamentos suicidas até críticas ásperas ao sistema, esse diário machuca. E eu não posso nem me consolar pensando "ainda bem que isso acabou" porque os problemas retratados aqui, a fome e a desigualdade, ainda estão muito presentes em nossa realidade.
As narrações do dia, repetitiva e cíclica, passa a sensação de claustrofobia, como se nós mesmo estivéssemos presos naquela rotina de acordar, buscar água, catar papel e sofrer com a falta de comida em casa e não conseguir alimentar os filhos. Isso se repete. E sempre dói de ler.
"Um sapateiro perguntou-me se o meu livro era comunista. Respondi que é realista. Ele disse-me que não é aconselhavel escrever a realidade."
É um livro extremamente importante, acredito que todo brasileiro deveria ler, para, talvez, abrir os olhos para uma situação que muitos ainda tem que enfrentar todo dia, e ajudar a refletir sobre o papel de cada um nessa miséria.
Revolta e melancolia são os sentimentos que ficaram quando terminei essa leitura.
Não vou dar nota para esse livro, não faz sentido dar nota em diários pessoais, mas fiquem com o poema "O Bicho", de Manuel Bandeira:
"Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem."
Obrigada por ler até aqui!
Beijinhos,
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